Elementos da Tradição cultural Puri
HABITAÇÃO (NGWÁRA)
Há dois tipos:
A maior e mais durável usa troncos de árvore na estrutura, é coberta com palha ou sapé, e suas paredes são feitas com galhos ou bambus em treliça, que pode ser barreada ou não.
Outra, menor e provisória, aproveita duas árvores, entre as quais é suspenso um galho ou bambu, de onde desce em diagonal uma cobertura de folhas (de palmeira, coqueiro ou bananeira) que também funciona como parede.
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ALIMENTAÇÃO (MAXÊ)
Baseada prioritariamente na caça e na coleta. Em menor escala, na agricultura. A alimentação tradicional Puri inclui carne de macaco, anta, porco-do-mato, peixe, milho, castanha de sapucaia, cará (espécie de raiz), abóbora, banana, palmito, feijão, batata, mandioca, cajá, abacaxi e mel.
Merece destaque a castanha de sapucaia, que além de importante alimento, compõe a cosmovisão puri. Além disso, o côco vazio da sapucaia serve como utensílio doméstico.
A bebida tradicional Puri (Katipuêira) é feita de milho fermentado. Contemporaneamente, bebidas também são feitas pela fermentação de frutas como o abacaxi.
O milho também tem importância além da alimentar, representando um símbolo de paz; sendo ofertado entre Puris e Coroados no estabelecimento de trégua em conflitos.
GRAFISMOS (PIRIRÊMA)
A pintura ancestral que é comum a homens, mulheres e crianças: são três pontos, pintados 1 em cada maçã do rosto e 1 na testa. O número três no na cultura Puri, representa a noção de múltiplo e de coletividade. Essa pintura é então usada por todos com sentido de identificação da coletividade, de pertença, o povo.
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Há grafismos ancestrais que seu sentido não chegou às gerações atuais, sendo utilizado hoje em dia com sentido de reverência aos ancestrais. Ocorre que alguns aspectos culturais como grafismo, adornos, cantos e etc, de tão antigos, somente alguns poucos anciãos sabiam seus significados. Como cantos Coroados entoados no séc XIX em que somente alguns mais velhos ainda se lembravam da tradução. Também como a separação entre os Puris e Coroados, antes um mesmo povo, também somente alguns antigos sabiam explicar.
As mulheres pintam uma estrela bem pequena, semelhante a um asterisco em cada face. Outra pintura usada somente pelas mulheres é feito nas duas faces, 2 linhas horizontais com 1 círculo grande com 1 pingo no centro do círculo, acima e encostado nas linhas, e abaixo das duas linhas 2 círculos grandes com 1 pingo no centro do círculo.
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PURI ÍNDIOS PURI
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As crianças são pintadas com pintas por todo o corpo, semelhantes às de uma onça.
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Grafismo masculino (Koêma piriréma):
Um risco passa abaixo do pescoço, circula pelas costas e se fecha, semelhante a um colar, dele desce por cima de cada peito, verticalmente 2 linhas até a cintura. Esse grafismo masculino é completo com 2 linhas verticais na extensão de cada braço, saindo do risco “colar” acima de cada ombro.
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Contemporaneamente, a representação de peixes também adorna o corpo de mulheres e homens Puris, representando vínculo entre grafismos e cantos.
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MEDICINA (BAY-TXÍNA)
A poaia, na tradição, é usada por sua propriedade depurativa do sangue, para induzir o vômito em caso de intoxicação e funcionando como antídoto para venenos.
Sangria é o tratamento para casos de envenenamento por picada de animal, e tradicionalmente se faz acertando a veia com a ponta de pedra de uma pequena seta, disparada por um pequeno arco.
O rapé, além de seu uso por inalação, é usado no pós-parto para o tratamento do umbigo das crianças.
A gordura do tatu é o tratamento para dores reumáticas; a gordura da anta e do porco-do-mato são tratamentos para problemas respiratórios; a gordura do quati tratamento de dores na coluna.
Folhas de capeva tratamento para dor de cabeça.
Jejum somado a repouso como parte de tratamento das doenças.
A prática da fumigação (tratamento medicinal através de vapores e fumaças em partes do corpo), também realizada para o afastamento de espíritos indesejados.
MEDICINA (BAY-TXÍNA)
A poaia, na tradição, é usada por sua propriedade depurativa do sangue, para induzir o vômito em caso de intoxicação e funcionando como antídoto para venenos.
Sangria é o tratamento para casos de envenenamento por picada de animal, e tradicionalmente se faz acertando a veia com a ponta de pedra de uma pequena seta, disparada por um pequeno arco.
O rapé, além de seu uso por inalação, é usado no pós-parto para o tratamento do umbigo das crianças.
A gordura do tatu é o tratamento para dores reumáticas; a gordura da anta e do porco-do-mato são tratamentos para problemas respiratórios; a gordura do quati tratamento de dores na coluna.
Folhas de capeva tratamento para dor de cabeça.
Jejum somado a repouso como parte de tratamento das doenças.
A prática da fumigação (tratamento medicinal através de vapores e fumaças em partes do corpo), também realizada para o afastamento de espíritos indesejados.
MEDICINA (BAY-TXÍNA)
A poaia, na tradição, é usada por sua propriedade depurativa do sangue, para induzir o vômito em caso de intoxicação e funcionando como antídoto para venenos.
Sangria é o tratamento para casos de envenenamento por picada de animal, e tradicionalmente se faz acertando a veia com a ponta de pedra de uma pequena seta, disparada por um pequeno arco.
O rapé, além de seu uso por inalação, é usado no pós-parto para o tratamento do umbigo das crianças.
A gordura do tatu é o tratamento para dores reumáticas; a gordura da anta e do porco-do-mato são tratamentos para problemas respiratórios; a gordura do quati tratamento de dores na coluna.
Folhas de capeva tratamento para dor de cabeça.
Jejum somado a repouso como parte de tratamento das doenças.
A prática da fumigação (tratamento medicinal através de vapores e fumaças em partes do corpo), também realizada para o afastamento de espíritos indesejados.
CULTURA MATERIAL
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PURI |
De cerâmica são feitos os recipientes para fabricação das bebidas tradicionais, as urnas funerárias (camucí), os potes, panelas, pratos, fusos e cachimbos.
De fibras vegetais, como a da embaúba, são feitos os cestos, usados para coleta, que são presos à testa por uma alça. Também são feitos desse material as redes de dormir
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índios puri |
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índios puri |
De sementes como a saboneteira são feitos os tradicionais cordões que transpassam o peito em diagonal. Tradicionalmente, os dentes de macaco fazem parte da confecção de modelos de colares mais curtos.
Os cocares, há 2 modelos. Um de penas curtas (masculino e feminino) e outro, grande, que cai pelas costas, de cor amarela.
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índios puri coroado |
Escudo redondo de madeira do tamanho de meio homem, lanças e porretes também fazem parte dos instrumentos de luta.
O maracá (grinkrína), a flauta (terára), o tambor (borará) e um tipo de viola feita de taquara compõem o universo musical.
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O berrante (txapá) feito de taquara e rabo de tatu, é um instrumento usado em momentos de guerra, cuja finalidade é alertar a aldeia e convocar confrontos.
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índios puri |
Outros adornos de cabeça são as tradicionais faixas feitas de couro de macaco e as faixas feitas de palha.
Outros elementos da cultura material Puri são a confecção de rede de pesca, esteiras, bodoques, cuias de cuité, e bolsas tecidas pelas mulheres com fibra de embira.
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COSMOVISÃO
Duas árvores (ambô) compõem a cosmovisão Puri: a acaiaca e a sapucaia.
A sapucaia é o próprio símbolo da abundância: o pós-morte, para os Puris, se passa em um bosque de sapucaia com caça abundante, onde se encontram todos os mortos do povo. Aos pés dessa árvore ocorreram tradicionalmente os sepultamentos Puris.
A acaiaca é considerada uma árvore sagrada e protetora do povo Puri. Esse elemento da cosmovisão resistiu em locais de ocupação originária do povo Puri, passando a compor o universo cultural das localidades, como na região de Diamantina, onde a população passa para as gerações seguintes o conto de que os bandeirantes só conseguiram vencer os Puris após cortarem a árvore acaiaca, quebrando a proteção do povo Puri. A árvore teria sido queimada e das cinzas da acaiaca nasceram os diamantes, pedras da cobiça e da maldição.
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As castanhas da sapucaia integram a alimentação tradicional Puri.O côco vazio tem uso de utensílio.
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Na espiritualidade Puri, considera-se um Deus (Dokôra) criador de todas as coisas, mas não há cultuação e não há necessidade de pedir nem agradecer pelo bem que há e ocorre no mundo, pois esse representa o andamento natural da vida. Portanto, não há identificação de um causador para o bem. Apenas o mal é considerado algo fora do natural, e pode surpreender os Puris em seus caminhos, assumindo a forma de um homem com pés de veado, de um lagarto, de um jacaré, de uma onça ou mesmo de um pântano; essa força maléfica pode fazer com que as pessoas se percam no caminho, se desviem, se irritem ou até mesmo morram.
Em tradição de oralidade Puri, a lua atua na proteção das crianças, que são oferecidas a ela ao nascerem. O banho de Puris recém nascido em água com 3 gotas de sangue de tatu também compões os ritos de proteção.
O milho também tem importância além da alimentar, representando um símbolo de paz; sendo ofertado entre Puris e Coroados no estabelecimento de trégua em conflitos.
Faz parte da espiritualidade Puri a comunicação não apenas com as suas entidades, mas também com os seus mortos, e o pajé tradicionalmente é quem faz essa mediação. A comunicação do pajé com os espíritos é antecedida de um assobio que indica ao pajé o local do encontro. No local, próximo a árvores, uma ventania na copa da árvore demonstra a presença do espírito. Em outras culturas indígenas, como a Guarani, encontramos referência às árvores num contexto espiritual, mediado pelo canto: Eu vou levantando até a altura da copa das árvores (ka´aguipotïrehegua). (...) “nós subimos quando nós cantamos”. Durante a interação do pajé com o espírito, a fala é baixa e o pajé precisa estar preparado para ser derrubado no chão algumas vezes. Após respondida todas as questões, o espírito se despede gritando 3 vezes como um macuco (pássaro identificado por seu grito de aparência triste) e após um estrondo encerra-se a invocação do pajé.
Os Puris/Coroados sempre foram tidos por outros povos e pelos cronistas, como grandes feiticeiros; pela tradição de invocação aos mortos (realizada sempre em noites mais escuras ou de tempestades) para consultas (de melhor lugar para caça e outras motivações), para preparação das guerras e para tratamentos medicinais; devido à prática do preparo de substância extraída da pele de seus mortos para combate a feitiços, realização de ritos de expulsão de espíritos indesejados e outros aspectos de sua cosmovisão.
Essas práticas eram realizadas pelo pajé e/ou feiticeiro do povo, a este era dado o reconhecimento enquanto tal, mediante à demonstração de domínio da evocação desses espíritos.
ALGUNS ANIMAIS DE SIMBOLISMO NA TRADIÇÃO PURI
Do macaco vem o couro, para a confecção das faixas de adorno para a cabeça, além das faixas feitas de palha. Os colares tradicionais trazem os dentes desse animal ou de onça, ou ainda conchas como proteção contra o ataque de feras e contra doenças.
A cobra é relacionada especificamente ao universo feminino e é pintada no braço esquerdo das mulheres. Outro elemento da cosmovisão Puri que resistiu às gerações e na atualidade compõe o universo cultural de localidades de habitação originária Puri, onde permanece o conto que relata que pelas mortes ocasionadas pelo ráyon-beorôna (não-indígena branco), o sangue Puri que caiu na terra, desceu, dando origem a uma gigantesca cobra subterrânea que um dia se moverá, abalando todas as habitações e cidade de invasores construídas sobre territórios Puris. A cobra também é uma figura presente nos grafismos em cerâmicas Puris.
O tatu é um animal relacionado ao sentido de proteção. Tradicionalmente usa-se 3 gotas de seu sangue no banho de Puris recém-nascidos para que recebam proteção contra todos os males.
O gavião é a figura em canto ancestral que referencia a tradição alimentar. No canto o gavião utiliza uma madeira para arrancar batatas da terra para se alimentar. Aves noturnas e de rapina são mensageiras dos mortos para o pajé, e por isso respeitadas por todo o povo.
FESTIVIDADES (HÉTA-PAY-PA)
Festividades ocorrem a qualquer época do ano. Celebrações de nascimento e morte suscitam cerimoniais de caráter mais particular. Os rituais coletivos contam com bebidas de fermentação natural correspondente aos frutos da época de maturação. Nestes momentos de sociabilidade os mortos e demais ancestrais se fazem presentes.
Há as festas relacionadas à maturação de frutos, Festas de casamentos e cerimônia da 1ª menstruação (rito de passagem para a vida adulta).
Tradicionalmente o matrimônio não possui cerimônia ritualística. O rapaz deve caçar um animal grande (em especial a anta), trazer a caça para o povo. Depois que escurece, o banquete começa a ser preparado, enquanto isso o rapaz vai se deitar ao lado da moça, ambos de costa um para o outro. Se a moça se virar e recebe-lo, estão casados. A festa então é iniciada junto à todos e são feitos cantos que remetem ao ato sexual.
É realizado o rito de passagem da menina para a vida adulta, iniciado quando ocorre a 1ª menstruação. A menina se retira para uma cabana na floresta, acompanhada de 2 mulheres de idade. Durante os dias do rito, ninguém deve tocar o alimento e bebida da menina. Sua menstruação fica sendo recolhida pelas mulheres mais velhas através de uma casca de jequitibá. Durante esse período seus parentes dançam toda noite em frente a cabana. Quando a menina se levanta, se adorna de penas, seu rosto é pintado de urucum e está completa a sua passagem para a vida adulta.
RITOS FUNERÁRIOS
O enterro tradicional deve ser feito aos pés de alguma grande árvore, em especial a sapucaia (lonkê), usando grandes potes de barro (camucí) de aproximadamente 5 palmos de comprimento e 3 palmos de largura, ornados de grafismo por dentro e por fora, onde deposita-se o corpo, que é colocado de cócoras, como em posição de descanso, e arrumado com seus adornos. Junto às pessoas falecidas vão seus pertences e até seus animais de estimação. A terra que cobre o pote enterrado é fortemente pisada pelos Puris enquanto proferem cantos de lamento e é realizada uma reza fúnebre.
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Por algum tempo o povo retorna ao local do enterro para depositar objetos pessoais e instrumentos de caça do morto. Os cantos de lamento permanecem sendo feitos no local 2 vezes ao dia, as mulheres pintam todo o corpo de preto e alguns deixam os cabelos crescerem muito compridos ou os cortam muito curtos. Ainda muito tempo após o enterro, se passar novamente pelo local, ali é feita clamorosa lamentação.
A esfera do mundo material não é dissociada do mundo espiritual. O território habitado, mais do que local de sustento e relações sociais, representa a memória, o enlace e a separação entre a comunidade dos vivos e dos mortos.
Com a invasão das terras indígenas, também ocorreu de sepultamentos serem feitos em grutas ou cavernas, por serem locais de difícil acesso e não serem alvo de profanação pela cobiça dos colonizadores.
No aldeamento de Queluz, já num contexto de cristianização forçada, o enterro era semelhante ao enterro não-indígena, porém ela colocada uma pequenina escada de madeira em cima do local do enterro, para a subida dos espíritos. Um cemitério cristão não possui uma árvore para cada pessoa enterrada. A relação espiritual existente entre árvore e morte é expressa no próprio idioma Puri (Kwaytikindo) em que a palavra morte (ambô-nan) e encantar (ambô-gayúma) carregam dentro delas a palavra árvore (ambô). Entre culturas indígenas considera-se que os encantados são antepassados que enquanto estavam vivos se transformaram e se tornaram parte da natureza, “encantaram”, por isso a reverência a eles não deve ser confundida com as cerimônias aos mortos.