sexta-feira, 3 de maio de 2019

Cultura Puri

   Elementos da Tradição cultural Puri



HABITAÇÃO (NGWÁRA)
Há dois tipos:
A maior e mais durável usa troncos de árvore na estrutura, é coberta com palha ou sapé, e suas paredes são feitas com galhos ou bambus em treliça, que pode ser barreada ou não.
Outra, menor e provisória, aproveita duas árvores, entre as quais é suspenso um galho ou bambu, de onde desce em diagonal uma cobertura de folhas (de palmeira, coqueiro ou bananeira) que também funciona como parede.




POVO PURI
índios puri




ALIMENTAÇÃO (MAXÊ)

Baseada prioritariamente na caça e na coleta. Em menor escala, na agricultura. A alimentação tradicional Puri inclui carne de macaco, anta, porco-do-mato, peixe, milho, castanha de sapucaia, cará (espécie de raiz), abóbora, banana, palmito, feijão, batata, mandioca, cajá, abacaxi e mel.
Merece destaque a castanha de sapucaia, que além de importante alimento, compõe a cosmovisão puri. Além disso, o côco vazio da sapucaia serve como utensílio doméstico.
A bebida tradicional Puri (Katipuêira) é feita de milho fermentado. Contemporaneamente, bebidas também são feitas pela fermentação de frutas como o abacaxi.
O milho também tem importância além da alimentar, representando um símbolo de paz; sendo ofertado entre Puris e Coroados no estabelecimento de trégua em conflitos.




GRAFISMOS (PIRIRÊMA)

A pintura ancestral que é comum a homens, mulheres e crianças: são três pontos, pintados 1 em cada maçã do rosto e 1 na testa. O número três no na cultura Puri, representa a noção de múltiplo e de coletividade. Essa pintura é então usada por todos com sentido de identificação da coletividade, de pertença, o povo.



PURI
índios puri

Há grafismos ancestrais que seu sentido não chegou às gerações atuais, sendo utilizado hoje em dia com sentido de reverência aos ancestrais. Ocorre que alguns aspectos culturais como grafismo, adornos, cantos e etc, de tão antigos, somente alguns poucos anciãos sabiam seus significados. Como cantos Coroados entoados no séc XIX em que somente alguns mais velhos ainda se lembravam da tradução. Também como a separação entre os Puris e Coroados, antes um mesmo povo, também somente alguns antigos sabiam explicar.


Grafismo feminino (Boêma piriréma): 


As mulheres pintam uma estrela bem pequena, semelhante a um asterisco em cada face. Outra pintura usada somente pelas mulheres é feito nas duas faces, 2 linhas horizontais com 1 círculo grande com 1 pingo no centro do círculo, acima e encostado nas linhas, e abaixo das duas linhas 2 círculos grandes com 1 pingo no centro do círculo.

PURI
índios puri
PURI
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 PURI     ÍNDIOS PURI


Mais uma pintura exclusivamente feminina é nas laterais dos 2 braços e as 2 pernas, duas retas afastadas e preenchido o espaço entre elas com pontos.


PURI
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A cobra (Xamúm) é relacionada especificamente ao universo feminino. O grafismo ancestral da cobra é feito tradicionalmente no braço esquerdo das mulheres. Um elemento da cosmovisão Puri que resistiu às gerações e na atualidade compõe o universo cultural de localidades de habitação originária Puri, onde permanece o conto que relata que pelas mortes ocasionadas pelo ráyon-beorôna (não-indígena branco), o sangue Puri que caiu na terra, desceu, dando origem a uma gigantesca cobra subterrânea que um dia se moverá, abalando todas as habitações e cidade de invasores construídas sobre territórios Puris. A cobra também é uma figura presente nos grafismos em cerâmicas Puris.

PURI
PURI

As crianças são pintadas com pintas por todo o corpo, semelhantes às de uma onça.

ÍNDIOS PURI
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Grafismo masculino (Koêma piriréma):

Um risco passa abaixo do pescoço, circula pelas costas e se fecha, semelhante a um colar, dele desce por cima de cada peito, verticalmente 2 linhas até a cintura. Esse grafismo masculino é completo com 2 linhas verticais na extensão de cada braço, saindo do risco “colar” acima de cada ombro.

ÍNDIOS PURI
índios puri

Contemporaneamente, a representação de peixes também adorna o corpo de mulheres e homens Puris, representando vínculo entre grafismos e cantos.

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MEDICINA (BAY-TXÍNA)

A poaia, na tradição, é usada por sua propriedade depurativa do sangue, para induzir o vômito em caso de intoxicação e funcionando como antídoto para venenos.
Sangria é o tratamento para casos de envenenamento por picada de animal, e tradicionalmente se faz acertando a veia com a ponta de pedra de uma pequena seta, disparada por um pequeno arco.
O rapé, além de seu uso por inalação, é usado no pós-parto para o tratamento do umbigo das crianças.
O sangue de tatu é usado para banhar crianças recém-nascidas. Usado 3 gotas do sangue de tatu na água do banho para dar proteção contra doenças e todos os males.
A gordura do tatu é o tratamento para dores reumáticas; a gordura da anta e do porco-do-mato são tratamentos para problemas respiratórios; a gordura do quati tratamento de dores na coluna.
Folhas de capeva tratamento para dor de cabeça.
Jejum somado a repouso como parte de tratamento das doenças.
A prática da fumigação (tratamento medicinal através de vapores e fumaças em partes do corpo), também realizada para o afastamento de espíritos indesejados.



MEDICINA (BAY-TXÍNA)
A poaia, na tradição, é usada por sua propriedade depurativa do sangue, para induzir o vômito em caso de intoxicação e funcionando como antídoto para venenos.
Sangria é o tratamento para casos de envenenamento por picada de animal, e tradicionalmente se faz acertando a veia com a ponta de pedra de uma pequena seta, disparada por um pequeno arco.
O rapé, além de seu uso por inalação, é usado no pós-parto para o tratamento do umbigo das crianças.
O sangue de tatu é usado para banhar crianças recém-nascidas. Usado 3 gotas do sangue de tatu na água do banho para dar proteção contra doenças e todos os males.
A gordura do tatu é o tratamento para dores reumáticas; a gordura da anta e do porco-do-mato são tratamentos para problemas respiratórios; a gordura do quati tratamento de dores na coluna.
Folhas de capeva tratamento para dor de cabeça.
Jejum somado a repouso como parte de tratamento das doenças.
A prática da fumigação (tratamento medicinal através de vapores e fumaças em partes do corpo), também realizada para o afastamento de espíritos indesejados.


 MEDICINA (BAY-TXÍNA)
A poaia, na tradição, é usada por sua propriedade depurativa do sangue, para induzir o vômito em caso de intoxicação e funcionando como antídoto para venenos.
Sangria é o tratamento para casos de envenenamento por picada de animal, e tradicionalmente se faz acertando a veia com a ponta de pedra de uma pequena seta, disparada por um pequeno arco.
O rapé, além de seu uso por inalação, é usado no pós-parto para o tratamento do umbigo das crianças.
O sangue de tatu é usado para banhar crianças recém-nascidas. Usado 3 gotas do sangue de tatu na água do banho para dar proteção contra doenças e todos os males.
A gordura do tatu é o tratamento para dores reumáticas; a gordura da anta e do porco-do-mato são tratamentos para problemas respiratórios; a gordura do quati tratamento de dores na coluna.
Folhas de capeva tratamento para dor de cabeça.
Jejum somado a repouso como parte de tratamento das doenças.
A prática da fumigação (tratamento medicinal através de vapores e fumaças em partes do corpo), também realizada para o afastamento de espíritos indesejados.


 CULTURA MATERIAL

Um dos objetos mais destacados em relação aos Puri são os seus grandes arcos (omrín), feitos com madeira de brejaúba, fundamentais para um povo que prioriza a caça.

POVO PURI
PURI

De cerâmica são feitos os recipientes para fabricação das bebidas tradicionais, as urnas funerárias (camucí), os potes, panelas, pratos, fusos e cachimbos.

De fibras vegetais, como a da embaúba, são feitos os cestos, usados para coleta, que são presos à testa por uma alça. Também são feitos desse material as redes de dormir

POVO PURI
índios puri
POVO PURI
índios puri

De sementes como a saboneteira são feitos os tradicionais cordões que transpassam o peito em diagonal. Tradicionalmente, os dentes de macaco fazem parte da confecção de modelos de colares mais curtos. 

Os cocares, há 2 modelos. Um de penas curtas (masculino e feminino) e outro, grande, que cai pelas costas, de cor amarela.

POVO PURI
índios puri coroado


Escudo redondo de madeira do tamanho de meio homem, lanças e porretes também fazem parte dos instrumentos de luta.
O maracá (grinkrína), a flauta (terára), o tambor (borará) e um tipo de viola feita de taquara compõem o universo musical.

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O berrante (txapá) feito de taquara e rabo de tatu, é um instrumento usado em momentos de guerra, cuja finalidade é alertar a aldeia e convocar confrontos.

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Outros adornos de cabeça são as tradicionais faixas feitas de couro de macaco e as faixas feitas de palha.


Outros elementos da cultura material Puri são a confecção de rede de pesca, esteiras, bodoques, cuias de cuité, e bolsas tecidas pelas mulheres com fibra de embira.

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COSMOVISÃO

Duas árvores (ambô) compõem a cosmovisão Puri: a acaiaca e a sapucaia.
A sapucaia é o próprio símbolo da abundância: o pós-morte, para os Puris, se passa em um bosque de sapucaia com caça abundante, onde se encontram todos os mortos do povo. Aos pés dessa árvore ocorreram tradicionalmente os sepultamentos Puris.
A acaiaca é considerada uma árvore sagrada e protetora do povo Puri. Esse elemento da cosmovisão resistiu em locais de ocupação originária do povo Puri, passando a compor o universo cultural das localidades, como na região de Diamantina, onde a população passa para as gerações seguintes o conto de que os bandeirantes só conseguiram vencer os Puris após cortarem a árvore acaiaca, quebrando a proteção do povo Puri. A árvore teria sido queimada e das cinzas da acaiaca nasceram os diamantes, pedras da cobiça e da maldição.

POVO PURI
índios puri



As castanhas da sapucaia integram a alimentação tradicional Puri.O côco vazio tem uso de utensílio.

POVO PURI
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Na espiritualidade Puri, considera-se um Deus (Dokôra) criador de todas as coisas, mas não há cultuação e não há necessidade de pedir nem agradecer pelo bem que há e ocorre no mundo, pois esse representa o andamento natural da vida. Portanto, não há identificação de um causador para o bem. Apenas o mal é considerado algo fora do natural, e pode surpreender os Puris em seus caminhos, assumindo a forma de um homem com pés de veado, de um lagarto, de um jacaré, de uma onça ou mesmo de um pântano; essa força maléfica pode fazer com que as pessoas se percam no caminho, se desviem, se irritem ou até mesmo morram.

Em tradição de oralidade Puri, a lua atua na proteção das crianças, que são oferecidas a ela ao nascerem. O banho de Puris recém nascido em água com 3 gotas de sangue de tatu também compões os ritos de proteção.

O milho também tem importância além da alimentar, representando um símbolo de paz; sendo ofertado entre Puris e Coroados no estabelecimento de trégua em conflitos.

Faz parte da espiritualidade Puri a comunicação não apenas com as suas entidades, mas também com os seus mortos, e o pajé tradicionalmente é quem faz essa mediação. A comunicação do pajé com os espíritos é antecedida de um assobio que indica ao pajé o local do encontro. No local, próximo a árvores, uma ventania na copa da árvore demonstra a presença do espírito.  Em outras culturas indígenas, como a Guarani, encontramos referência às árvores num contexto espiritual, mediado pelo canto: Eu vou levantando até a altura da copa das árvores (ka´aguipotïrehegua). (...) “nós subimos quando nós cantamos”. Durante a interação do pajé com o espírito, a fala é baixa e o pajé precisa estar preparado para ser derrubado no chão algumas vezes. Após respondida todas as questões, o espírito se despede gritando 3 vezes como um macuco (pássaro identificado por seu grito de aparência triste) e após um estrondo encerra-se a invocação do pajé.

Os Puris/Coroados sempre foram tidos por outros povos e pelos cronistas, como grandes feiticeiros; pela tradição de invocação aos mortos (realizada sempre em noites mais escuras ou de tempestades) para consultas (de melhor lugar para caça e outras motivações), para preparação das guerras e para tratamentos medicinais; devido à prática do preparo de substância extraída da pele de seus mortos para combate a feitiços, realização de ritos de expulsão de espíritos indesejados e outros aspectos de sua cosmovisão.
Essas práticas eram realizadas pelo pajé e/ou feiticeiro do povo, a este era dado o reconhecimento enquanto tal, mediante à demonstração de domínio da evocação desses espíritos.




ALGUNS ANIMAIS DE SIMBOLISMO NA TRADIÇÃO PURI

Do macaco vem o couro, para a confecção das faixas de adorno para a cabeça, além das faixas feitas de palha. Os colares tradicionais trazem os dentes desse animal ou de onça, ou ainda conchas como proteção contra o ataque de feras e contra doenças.

A cobra é relacionada especificamente ao universo feminino e é pintada no braço esquerdo das mulheres. Outro elemento da cosmovisão Puri que resistiu às gerações e na atualidade compõe o universo cultural de localidades de habitação originária Puri, onde permanece o conto que relata que pelas mortes ocasionadas pelo ráyon-beorôna (não-indígena branco), o sangue Puri que caiu na terra, desceu, dando origem a uma gigantesca cobra subterrânea que um dia se moverá, abalando todas as habitações e cidade de invasores construídas sobre territórios Puris. A cobra também é uma figura presente nos grafismos em cerâmicas Puris.

O tatu é um animal relacionado ao sentido de proteção. Tradicionalmente usa-se 3 gotas de seu sangue no banho de Puris recém-nascidos para que recebam proteção contra todos os males.

O gavião é a figura em canto ancestral que referencia a tradição alimentar. No canto o gavião utiliza uma madeira para arrancar batatas da terra para se alimentar. Aves noturnas e de rapina são mensageiras dos mortos para o pajé, e por isso respeitadas por todo o povo.





FESTIVIDADES (HÉTA-PAY-PA)

Festividades ocorrem a qualquer época do ano. Celebrações de nascimento e morte suscitam cerimoniais de caráter mais particular. Os rituais coletivos contam com bebidas de fermentação natural correspondente aos frutos da época de maturação. Nestes momentos de sociabilidade os mortos e demais ancestrais se fazem presentes.

Há as festas relacionadas à maturação de frutos, Festas de casamentos e cerimônia da 1ª menstruação (rito de passagem para a vida adulta).

Tradicionalmente o matrimônio não possui cerimônia ritualística. O rapaz deve caçar um animal grande (em especial a anta), trazer a caça para o povo. Depois que escurece, o banquete começa a ser preparado, enquanto isso o rapaz vai se deitar ao lado da moça, ambos de costa um para o outro. Se a moça se virar e recebe-lo, estão casados. A festa então é iniciada junto à todos e são feitos cantos que remetem ao ato sexual.

É realizado o rito de passagem da menina para a vida adulta, iniciado quando ocorre a 1ª  menstruação. A menina se retira para uma cabana na floresta, acompanhada de 2 mulheres de idade. Durante os dias do rito, ninguém deve tocar o alimento e bebida da menina. Sua menstruação fica sendo recolhida pelas mulheres mais velhas através de uma casca de jequitibá. Durante esse período seus parentes dançam toda noite em frente a cabana. Quando a menina se levanta, se adorna de penas, seu rosto é pintado de urucum e está completa a sua passagem para a vida adulta.





RITOS FUNERÁRIOS

O enterro tradicional deve ser feito aos pés de alguma grande árvore, em especial a sapucaia (lonkê), usando grandes potes de barro (camucí) de aproximadamente 5 palmos de comprimento e 3 palmos de largura, ornados de grafismo por dentro e por fora, onde deposita-se o corpo, que é colocado de cócoras, como em posição de descanso, e arrumado com seus adornos.  Junto às pessoas falecidas vão seus pertences e até seus animais de estimação. A terra que cobre o pote enterrado é fortemente pisada pelos Puris enquanto proferem cantos de lamento e é realizada uma reza fúnebre. 


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Por algum tempo o povo retorna ao local do enterro para depositar objetos pessoais e instrumentos de caça do morto. Os cantos de lamento permanecem sendo feitos no local 2 vezes ao dia, as mulheres pintam todo o corpo de preto e alguns deixam os cabelos crescerem muito compridos ou os cortam muito curtos. Ainda muito tempo após o enterro, se passar novamente pelo local, ali é feita clamorosa lamentação.
Outra prática da cultura Puri/Coroado é o morto ser enterrado dentro da casa que ocupava em vida. Depois disso, essas casas não devem ser utilizadas, pois o espírito continua usando esse seu espaço, que deve ser respeitado e não perturbado. As lideranças espirituais, responsáveis pelas vivências rituais, devem ser enterradas com todos os seus utensílios considerados necessários para a vida pós-morte.
A esfera do mundo material não é dissociada do mundo espiritual. O território habitado, mais do que local de sustento e relações sociais, representa a memória, o enlace e a separação entre a comunidade dos vivos e dos mortos.

Com a invasão das terras indígenas, também ocorreu de sepultamentos serem feitos em grutas ou cavernas, por serem locais de difícil acesso e não serem alvo de profanação pela cobiça dos colonizadores.
No aldeamento de Queluz, já num contexto de cristianização forçada, o enterro era semelhante ao enterro não-indígena, porém ela colocada uma pequenina escada de madeira em cima do local do enterro, para a subida dos espíritos. Um cemitério cristão não possui uma árvore para cada pessoa enterrada. A relação espiritual existente entre árvore e morte é expressa no próprio idioma Puri (Kwaytikindo) em que a palavra morte (ambô-nan) e encantar (ambô-gayúma) carregam dentro delas a palavra árvore (ambô). Entre culturas indígenas considera-se que os encantados são antepassados que enquanto estavam vivos se transformaram e se tornaram parte da natureza, “encantaram”, por isso a reverência a eles não deve ser confundida com as cerimônias aos mortos.











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